sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Caução - Conto de Luis da Silva Ubuntu


Toda vizinhança acordou sobre o som dos apitos e assobios, era assim que eles procediam sempre que agarrassem um marginal. Eram duas horas da manhã. Todos correram para rua  ver o que estava acontecer. Um grupo de vizinhos haviam agarrado um jovem durante uma tentativa de estupro, o jovem era conhecido por aquelas bandas como violador, mas nunca o tinha encontrado antes. Dessa vez ele não escapava!

Sempre que agarrassem um ladrão por aquelas bandas, quase que não se conversava. Os vizinhos eram impiedosos e amavam castigar os ladrões, batendo sem piedade em todas partes do seu corpo e com tudo que pudessem, sem pena! Bem na entrada da rua, eles colocaram uma placa com os seguintes dizeres: “Não tenha pena de ladrões, eles não têm pena de nós”. Dessa vez a revolta era maior por tratar-se de tentativa de violação, era repugnante que alguém desrespeitasse o corpo sagrado de uma mulher. A jovem estava totalmente suja e com as vestes rasgadas de tanto lutar para não ver o corpo invadido por um desconhecido. Coitada da tia Zumba, estava estendida no chão sem sentidos, ela desmaiou quando a contaram o que aconteceu com a sua filha.

Os vizinhos conversavam entre si.

- Nós nunca tiramos a vida de ninguém, mas esse merece morrer. – falou o líder do grupo.

- Eu concordo, esse miúdo é bruxo! Ele já violou muitas meninas, o cão nem chora com toda surra que lhe estamos a dar. – acrescentou outro vizinho.

Todos concordaram, O jovem não sairia daí com vida. Ele pagaria por todas as vezes que abusou de uma mulher. Rasgaram as vestes do jovem e molharam-no todo, eram bofetadas atrás de bofetadas, uns inclinavam as catanas e o davam na cara. Uns atiravam pedras e o ofendiam. O jovem já nem conseguia ficar em pé, mas eles não paravam de o bater. Depois de muitas horas batendo no jovem, eles decidiram finalmente acabar com a sua vida. Decidiram que seria apedrejado. Amarram-no em uma árvore para que todos pudessem jogar as pedras. Quando eles estavam prestes a começar o apedrejamento, apareceu a polícia e fez tiros ao ar para dispersar a população. Alguns correram, mas os mais corajosos permaneceram imoveis com as suas pedras na mão.

- Parem com isso agora! – gritou o chefe da policia.

- Ninguém vai parar nada, vamos matar ele! Se a policia não consegue fazer o seu trabalho directo, então nós vamos fazer. – retrucou o líder do movimento.

- Cala a merda da tua boca! Se você dizer mais uma merda vais dormir na esquadra e vais conhecer como os polícias trabalham direito. – ele fez outro tiro ao ar para demostrar autoridade.

O polícia mandou desamarrar o jovem para que o levassem na esquadra. Olhou para todos a sua volta e disse:

- Vocês estão a brincar de Deus? Não sabem que não podem fazer justiça por mãos próprias?

- Que justiça vocês vão fazer com um estuprador? Tudo que vai acontecer vai ser ele pagar um caução e sair da prisão. Essa é a vossa justiça? – o líder do grupo confrontou novamente o chefe da policia.

- Você é o líder do grupo, certo? Então vais preso hoje por desrespeito a autoridade. – Deu sinal para que o prendessem, mas toda população revoltou-se e não permitiram que levassem o líder do grupo. O líder olhou para o chefe da polícia com desprezo e o disse:

- Hoje é a nossa filha e você não sente a nossa dor, quero ver quando acontecer com a sua filha ou alguém da sua família! – o chefe da polícia nada conseguiu dizer. Todos moradores retiraram-se.

Os polícias levaram o estuprador para esquadra, o jovem quase que já não respirava. Todos sabiam como a polícia daquelas bandas era corrupta, tudo que os interessava era receber um dinheiro e soltar os detentos, não importava qual fosse o crime.

Na manhã seguinte, eles acordaram o jovem com um balde de água.

- Acorda, porra! – gritou o agente dando umas bofetadas na cara do jovem. O chefe acompanhava tudo ao lado.

O jovem despertou assustado, olhando para todos os lados. Como se não fizesse ideia de onde estivesse.

- Seu estuprador de merda! Você consegue resolver o seu problema? – o agente voltou a dar outra bofetada na cara do jovem.

O jovem já sabia de qual linguagem estavam a falar. Ele sabia que o agente estava a referir-se de dinheiro.

- Sim, chefe! Eu consigo resolver o meu problema. – respondeu cobrindo o rosto para evitar outra bofetada.

- Você tem 150.000? – perguntou o agente, dessa vez lhe dando um pontapé da barriga.

- Tenho sim, chefe! Só preciso ligar para alguém agora. – falou o jovem se contorcendo de dores no chão.

- Toma, fala rápido. Porra! – o agente entregou o telefone e voltou a dar outra bofetada da cara do jovem.

Ficou tudo acertado, o jovem foi solto. O chefe da polícia ficou com 100.000 e o agente ficou com 50.000. O chefe da polícia estava feliz,  era o dia de entrega de diplomas da sua filha casula, a menina que ele mais amava. Ela estava a licenciar-se com 22 anos de idade. Ele enchiam-se de orgulho para falar sobre a sua menina. Ele disse ao seu colega que só recebeu o dinheiro para comprar um presente para sua filha, caso contrário o estuprador morreria na cadeia.

Às 22 horas, instalou-se o pânico em casa do chefe da polícia. Após a cerimónia de entrega de entrega de diplomas, sua filha pediu para que fosse celebrar com as suas colegas em um restaurante e mais tarde voltaria em casa. Já Fazia uma hora que ela deixara de atender o telefone, a última vez que atendeu ela disse que já estava a caminho de casa. Mas já passavam duas horas e ela não chegava, e o seu telefone dava desligado. Ligaram para as suas colegas e todas confirmaram que ela despediu-se delas e foi para casa. Ninguém fazia ideia de onde ela estava! Mil coisas passavam na cabeça do chefe da polícia e de toda sua família, mas eles não podiam fazer nada a não ser esperar amanhecer. O chefe da polícia decidiu acreditar que sua filha estava em casa do seu namorado e com medo preferiu desligar o telefone, mas amanhã de certeza ela estaria na porta de casa. Ele adormeceu com esse pensamento.

Eram 6 horas da manhã quando se ouvia o tumulto na rua. O chefe da polícia acordou apressadamente e correu para rua, ordenando que ninguém em sua casa saísse. Ele perguntou num dos vizinhos o que se passava, e o disseram que encontraram o corpo de uma jovem abandonada em um terreno baldio. Naquele momento o coração dele bateu mais forte, o medo tomou conta de todo seu corpo. Os seus passos eram mais lentos em direção ao tereno onde encontrava-se o corpo. Será? – ele se perguntava. As pessoas passavam por ele lamentando e ele ficava com mais medo. Com uma voz tímida pediu que o deixassem passar para olhar o corpo da vítima. Enquanto as pessoas abriam o caminho para que ele passasse, ele fechava os olhos e pedia para que não fosse a sua filha. Ele estava diante do corpo da vítima, agora só precisava abrir os olhos e remover o pano que cobria o corpo jogado no chão. Quando ele abriu os olhos foi a grande surpresa! Sim, era a sua filha que estava morta e abandonada naquele tereno baldio. Ao lado estava o seu diploma e roupa da entrega de diploma. Tudo indicava que ela foi estuprada e morta. O chefe da polícia ficou imóvel! Ele pensou no estuprador que ele permitiu libertar no dia anterior. Pode não ter sido ele a cometer esse crime, mas o dinheiro que ele recebeu para comprar um presente para sua filha, vai servir para comprar o caixão.   



 

2 comentários:

  1. Bom conto, boa reflexão ❤️❤️❤️. Acobertar crime é o mesmo que condenar a sociedade ��������

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