quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Quarta do conhecimento - Por: Muzb


 Minha avó,Zereferina de Castro, costumava dizer, costumava saber...

 

Aos seus 90 anos, Já meio "varrida" da cabeça ainda podia descrever:

 

"O abuso é corrupto, não se esconde, sempre pede permissão sem esperar uma resposta, como se tivesse posse."

 

Já meio enrugada, sorriu-me de ladoe me pediu que fosse buscar uma tigela. Disse para que a enchesse de água, sem parar. E, de preferência que fosse de vidro.

 

Caminhei até a direção da prateleira, tirei a tigela de vidro. Enchi ( a torneira ficava à baixo dela), perguntou como me senti e como a tigela havia ficado.

 

"Madeleine, me responda!" disse ela, sem o sorriso de lado. Eu, toda trémula, com o rosto já meio inflamado por causa das lágrimas - era medo, medo de ser apanhada sem fazer nada. Olhei para ela e contei...

 

Afirmei que não senti nada, mas que a tigela havia transbordado e que no princípio, o contacto da superfície com a água, fazia alguns ruídos.

 

Ela acenou com a cabeça. Mexendo aquela bengala velha que eu estava farta de ver, mas gostava. Então ela disse:

 

- A tigela é a pessoa que sempre se cala perante alguma dor, e vai acumulando até desabar; e os ruídos são os primeiros gritos que logo desaparecem depois de muito tempo de espera e, se hoje, há pessoas que gritam até quando transbordam, grite com elas, até que te falte voz,  e, se mesmo faltando voz  os resultados não aparecerem, use as mãos, até todo o corpo se possível... E já pensou se no lugar da tigela fosse uma camisola preta e no lugar da água fosse lixívia? Aí, as coisas nunca voltariam ao normal, ela estaria destroçada e teria de gritar de várias formas, teria que dormir de várias formas e nunca voltaria a sua forma. Agora limpe o chão.- ordenou ela sorrindo.

 

Não sorri durante 3 dias. E a carreguei como se fosse minha voz. Infelizmente morreu com a sua expressão de sempre; determinada a acabar o que começou. Se decidisse levantar em um dia nublado, a visão dela estaria mais clara que a minha.

Sempre foi boa a proferir as palavras em voz alta; era elegante como as damas da alta sociedade; seu brilho transcendia para suas roupas; só que não se comparava à elas (as damas da alta sociedade) , porque nem toda elegância provém do dinheiro que temos no bolso e sim, da nossa essência.

 

Por: Muzb

5 comentários:

Random Posts