domingo, 3 de abril de 2022

Um conto de Hadil Almeida



#FotosQueInspiramTextos 
📸 Deeldadino
Texto: Hadil Almeida

Oh Quinzinho! Não esquece a guitarra!"

Ouvi a voz do ZéCa gritando defronte a minha casa enquanto eu jantava. Levantei rapidamente deixando a comida para ir embora, mas ouvi outro grito repentinamente.

 "Quinzinho! Nume faz falar essaZora" minha mãe falou com aquele tom de voz que eu conhecia bem. Voltei à mesa e comecei novamente a comer. Dessa vez mais apressado. 
 
"Oh Quinzinho a Luisa está aqui!" Aquela última frase fez meu coração palpitar. Terminei de comer, bebi água e olhei para a minha mãe já segurando a minha guitarra.

 "Não valaPena voltar tarde! Tô mesmo já a te avisar." gritou a senhora que eu tanto amava.
"Obrigado, mãe. Te amo" falei e saí correndo como uma criança com tanta euforia que nem parecia que eu já tinha dezanove anos.

O ZéCa e o Manucho estavam a minha espera na porta de casa e me receberam aos gritos quando eu abri o portão. 
"Xé Quinzinho! Essa camisa é nova." disse o ZéCa induzindo os outros a gargalharem.
"Aquela dama vai te sentir hoje." 
"Yah Manucho! Ela disse que vai bazar. Já lhe falei o que sinto por ela. Vamos terminar a conversa mais tarde."
"Então vamo dá! Olha hora! Olha hora! Já são 18:38."

O ZéCa gritou e saímos andando eufóricos. Passamos em casa do Léo e seguimos os quatro juntos para o Luau. Quando lá chegamos,  o ambiente já estava quente. Colocamos nossos nomes na lista de actuação. Eu gostava muito do ambiente de praia a beira mar, e debaixo daquela lua cheia eu contemplava os rostos iluminados pelo luar, sorrindo e cantando de alegria. Uns já bêbados, outros em beijos e outros cantando e dançando. Dei um sorriso de orelha-a-orelha ao ver a Luísa sentada por cima de uma caixa térmica grande. Aproximei-me dela. 

- Trouxe isso para ti! - ofertei-lhe uma flor. Foi o Manucho que tinha me dado a flor para entregá-la. Ela agradeceu sorrindo. Contou-me como tivera sido os ensaios para a actuação de semba que ela apresentaria. Contou-me de como o seu dia tinha corrido mal, mas a mãe dela ajudou-lhe imenso. Quando finalmente toquei no assunto sobre nós os dois. Ela foi chamada para dançar. Eu fui sentar perto dos meus kambas. Não aguentava de ciúmes ao vê-la dançando agarrada com outro moço. Mas nada podia fazer, o Léo ria de mim. Dizendo que eu tinha que saber controlar mais a minha postura de homem.

Um tempo depois era minha vez de actuar. Entro para o meio da roda acompanhado do Léo. Eu tocaria a guitarra e ele a marimba e encantarias o pessoal ao som do Paulo Flores. Dediquei a canção para a Luisa, outra dica do meu camba Manucho. Cantamos e tocamos como se a música fosse nossa. Recebemos salvas de palmas e pediram que actuassemos outra música, e assim o fizemos. 

O relógio quase marcava a meia-noite, e eu estava ansioso por falar a Luísa como eu gostava dela e dar-lhe um beijo. ZéCa me deu umas dicas, e eles ficaram de longe me vendo ir ter com ela. Cheguei perto dela, ela irradiou um sorriso para mim. Afaguei-lhes as mãos. Ela agradeceu pela música que dediquei para ela. Teceu elogios pela minha actuação. 
"Não tens que agradecer sabe que eu gosto ti. Eu quero..."
O mesmo moço com quem ela dançou apareceu nos atrapalhando, ela olhou para ele do mesmo jeito que olhava para mim e se beijaram bem na minha frente. Fiquei pálido, morri por dentro e deixei cair a guitarra. Ela disse:
"Amor! Esse é o Quinzinho, meu amigo. Aquele moço aí que dedicou uma música para mim. Quinzinho estavas a dizer que querias mesmo o quê?"

Hadil Almeida


 

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