, Sim, esse texto começa com uma vírgula, tão errado quanto o nosso relacionamento, ainda sim, continuo escrevendo tal como a gente continuava tentando fazer o "nós" dar certo.
Após várias chamadas perdidas ela finalmente atendeu.
- Alô, meu bem!
- Olá, gatinha!
- O que foi a essa hora?
- Porque combinamos em sair hoje e estou aqui fora da tua casa, vim te pegar
- Como assim? Ainda são quatro da manhã!
- Sim, e tu disseste que não farias nada hoje e eu preparei algo romântico para ti.
- Que raio de encontro romântico acontece às quatro da manhã?
- O tipo de encontro que mais nenhum outro homem te levaria.
- Porque os outros homens têm juízo o suficiente para saberem que isso é um erro.
- Na verdade, acontece que quando um homem toma como um erro alguma coisa por não ser comum, automaticamente influencia a vasta maioria que nem sequer se atreve a tentar e também assume como erro.
- Então tu és o homem que vai quebrar o paradigma?
- Humanos são complicados! E eu não sou um homem, sou um...
- Semideus. Eu sei. - Ela terminou a minha frase.
- Viu? Então já quebrei o paradigma. - respondi. Ela sorriu. - Prepare-se porque no meu plano cada segundo importa.
- Sério mesmo?
- É claro!
- Esquece essa loucura. Eu dúvido que estejas aí.
- Mara! Mara! Mara! - comecei gritando no meio da rua isolada e escura antes mesmo dos galos começarem a cantar. Ela percebeu que eu estava realmente lá e bem disposto a cumprir com a minha palavra. Ela veio correndo abrindo a porta do quintal.
- O que é isso porra? Estás louco? A minha mãe está aqui.
Meu semblante transpareceu meu semi-arrependimento.
- Eu não sabia. E tinha que provar que realmente estava aqui para te levar para um lugar num universo paralelo. A propósito, tu acordas sempre linda deste jeito?
Ela sorriu.
- Desculpa! Não sabia que a tua mãe veio te visitar, mas agora nós precisamos realmente ir, prometo que vai ser inesquecível.
- Ser inesquecível não significa que será bom.
Eu sorri de canto. Dei-lhe o meu casaco e pedi que ela fosse preparar-se. Voltou rapidamente e partimos de carro.
- De quem é o carro?
- Acabei de tirar do parque da rua 2. Mas não te preocupes que eu abandonarei próximo de uma esquadra tão logo o nosso encontro terminar.
Ela olhou para mim com o semblante sério e sem pestanejar, como se tivesse esperando que eu dissesse que aquilo era uma piada. Eu fiquei em silêncio deixando aqueles segundos constrangedores tomarem conta do clima. Caí em gargalhas e ela suspirou revirando os olhos.
Passaram dez minutos desde que saímos da casa dela e finalmente chegamos ao destino. Cobri os olhos dela com uma venda e ajudei-a a caminhar até a um ponto onde ela pudesse ver o relevo e retirei a venda. Ela ficou de frente para mim, tão próxima que nossos lábios quase se tocavam, passei as mãos nas mechas das tranças dela ajeitando atrás da orelha e não escondi meu sorriso ao ver os seus lábios caramelos e sorriso gaiato.
- Dê meia-volta e olhe para o céu! - falei enquanto meus lábios tocavam os dela num vaivém sem exactamente ser um beijo.
- Isso é uma aurora boreal! - era completamente visível o seu espanto.
Ela ficou alguns segundos boquiaberta observando as luzes verdes e vermelhas se movendo no céu, como se Da Vinci tivesse pintado as nuvens. Afaguei-lhe as mãos e continuamos olhando para o céu. Sem nos distrairmos com as outras pessoas que também estavam lá para ver o fenômeno. Era como se o arco íris tivesse perdido o seu formato de arco e estivesse em metamorfose se espalhando por todo o céu. Senti ela apertando minha mão enquanto continuava olhando para cima.
- Eu pensava que isso só acontecia no polo norte.
- Há casos raros em que durante grandes tempestades geomagnéticas conseguimos ver a aurora em zonas de baixa latitude muito específicas ao redor do mundo. E nós, hoje, temos essa oportunidade em um milhão.
Ela olhou para mim e beijou-me com a mais pura ternura e paixão.
Quando o dia começava a clarear, levei-a para outro lugar não muito longe de onde estávamos. Havia um espaço reservado para nós onde sentamos em um pano estendido no chão. Eu tinha preparado uma garrafa de champanhe sem álcool tal como ela preferia. Servi em nossas taças e ela disse.
- Lugar lindo! - ela comentou olhando no verde da natureza ao nosso redor, nas plantas, árvores e na relva em que estávamos deitados. - E o que exactamente viemos fazer aqui?
- Viemos respirar ar puro, falar dos nossos erros e sonhos, de amor e outras drogas, e em meio disso ver o sol nascer. - falei as últimas palavras apontando para a metade do sol que já era visível. Ela sorriu e deitou sua cabeça em meu colo. Ficamos em silêncio, apenas aproveitando o momento sem câmeras ao alto, apenas nossos olhos eternizando o momento. Quebrei o silêncio dizendo. - Da Vinci pintando o céu outra vez.
O telefone dela chamava no silêncio. Ela não tinha percebido, infelizmente parou de chamar quando peguei para entregá-la. Olhei para o ecrã e havia cinco chamadas não atendidas de um número gravado só com emojis. E havia duas mensagens: "Onde estás? Tô preocupado." E uma outra que dizia: "Tô indo para minha casa me preparar para trabalhar. Pena que hoje não acordei vendo teu sorriso."
- Então essa é a tua mãe lá na tua casa?
Ela levantou a cabeça rapidamente do meu colo e puxou o telefone.
Fim...
Lobo sendo lobo, com a velha mania parecida com de algumas damas “nos deixar envolvidos e depois dizer só te gosto como amigo”…
ResponderExcluirBom demais, só não corto careca porque não tenho barba.😂👌❤️
Sempre nos deixando com curiosidade 🙈❤️
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