sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Meia-noite no Nilo - um conto de HADIL Almeida


Espreitei pelos corredores e não havia guardas de vigia. Apenas os candelabros acesos iluminando todo o corredor. Segurei a sua mão e olhei nos olhos dela, transbordando toda a minha confiança no que estávamos prestes a fazer. Demos os primeiros passos para fora do quarto e progressivamente saímos do corredor pela saída secundária. Quando olhei para trás, mais da metade do corredor estava às escuras. Ela apagava as chamas nos candelabros enquanto passávamos por eles. Ouvimos passos vindo da direção para a qual estávamos indo. Ela apertou minha mão enquanto escutava os passos, sua inquietação era visível em seu rosto. Eu entendia completamente o medo dela, não era de menos porque eu também estava assustado. Eu poderia ser morto apenas por estar com ela àquela hora da noite. E não seria por menos, porque estou fugindo com Núbia, a irmã mais nova de Cleópatra, para um passeio. Mas estávamos dispostos a correr o risco de morte, porque na verdade já estávamos morrendo de amor. Uma vez ouvi um nobre dizer: "O amor é uma desculpa para tolos cometerem erros." Bem, então, parado aqui no final deste corredor que agora está completamente escuro, eu atesto a frase, somos dois tolos apaixonados cometendo um erro.

Um guarda entrou no corredor, nos escondemos atrás de uma enorme estátua de Bastet, a deusa gata, deusa da fertilidade.

— Maldito Seth, deus das trevas. As chamas se apagaram aqui no corredor.

– Isso é um mau presságio! – respondeu o segundo guarda aos gritos do outro. — Não diga isso! Vamos pegar uma tocha acesa. — eles saíram.

Saímos alguns segundos depois que eles partiram. Encontramos meu amigo, Amir, que nos deu outras roupas como disfarce para sairmos do palácio. Ele nos guiou até uma ala desprotegida e a partir daí seguimos sozinhos.

– É libertador andar pela cidade assim! — disse Núbia, evidentemente feliz.

– Como assim é libertador se disfarçar?

– Não, idiota. É libertador caminhar pela cidade sem ser o centro das atenções, sem que ninguém se sinta obrigado a se curvar para mim ou me oferecer algo que não preciso apenas para ganhar minha simpatia.

Eu sorri prestando atenção no que ela estava dizendo. Estávamos parados no meio da rua, que estava um pouco movimentada com comerciantes voltando para suas casas. Ela continuou:

– É libertador andar sem guardas, poder pisar na terra e sentir a areia nos pés em vez desses tapetes feitos de animais mortos. É libertador estar com você aqui no meio da rua e sob o céu aberto sem precisar trancar portas ou se esconder em algum compartimento apertado. É libertador estar aqui.

– Sabe o que é ainda mais libertador?

— O quê? – ela questionou.

— Eu te amo, Núbia! — Gritei o mais alto que pude no meio da rua.

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Ela cobriu minha boca, transbordando uma mistura de medo e felicidade. Mordi levemente seus dedos. Ela retirou suas mãos rapidamente.

– Isso foi libertador!

– Isso foi loucura! – ela respondeu completamente preocupada.

— Viu! Ninguém se importou. As pessoas pensam que você é apenas outra Núbia qualquer. Você não precisa se preocupar!

Ela ainda parecia preocupada.

— Admite que é libertador e grita também.

— O quê? Eu não posso.

– Sim, você pode, ninguém vai saber que é a irmã da Cleópatra dizendo que me ama.

– As pessoas podem reconhecer minha voz. Eu não posso.

“Então me sinto obrigado a usar minha promissória.

— Você está falando sério? Vai me obrigar?

— Não. Tecnicamente, não é uma obrigação. Você apenas honrará sua palavra e cumprirá nossa promissória.

— Não me force a fazer isso, por favor. – ela pediu e me beijou.

– Tenho o direito de pedir algo que você não pode negar. E meu pedido é que você grite que me ama, aqui e agora.

Ela não conseguiu esconder aquele olhar intrigado. Ela deu um suspiro profundo e ficou em silêncio por um tempo, enfim gritou.

— Alim, eu te amo.

Ela imediatamente segurou meu braço e saímos correndo de lá, sorrindo euforicamente. De mãos dadas, corremos pela cidade, eufóricos, despreocupados e livres. Eu a levei para um canto da cidade onde havia combinado com uma prima, Ísis, que nos encontraríamos quando a lua iluminasse o céu. E lá estava ela nos esperando. Ela nos entregou uma cesta cheia de comida e ficou radiante por nós. Tinha a mesma idade que Núbia, vinte e quatro anos. Eu tinha dois anos a mais que as duas. Ela nos abençoou tocando em nossas testas e seguimos caminhos separados.

— Eu sempre quis ver o farol de Alexandria de perto!

— Nunca foi lá?

— Não. – ela disse seriamente.

— Pensei que a realeza já tivesse ido para todos os lugares mais bonitos. Sorrindo, ela negou meneando cabeça.

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