domingo, 7 de fevereiro de 2021

"A verdade é dura demais muitas vezes, talvez por esse motivo as pessoas mentem mais do que dizem a verdade"

 


Eterno medo


Meus olhos encheram-se de lágrimas quando a vi deitada e imóvel naquele chão gelado. Meus irmãos estavam a volta dela implorando que ela levantasse, mas ela não levantava. Eu não conseguia aproximar-me, os meus pés estavam pesados, meu coração batia acelerado e o meu corpo todo estava trêmulo. Eu não conseguia entender o que estava acontecer, aliás, eu não queria aceitar o que estava acontecer. Minha mãe sempre foi tudo para mim, não havia sonhos meus que ela não estivesse inclusa, ela não podia abandonar-me nunca. O tempo jamais iria curar a dor de perdê-la.

Eu sempre fui corajoso, porém, até os mais corajosos têm os seus medos e fraquezas. Desde mais pequeno o meu maior medo sempre foi pensar que um dia minha mãe deixaria de estar comigo; eu lembro que quando mais pequeno muitas vezes ficava em meu quarto chorando inconsolavelmente só de imaginar que um dia minha mãe fosse morrer.

A verdade é dura demais muitas vezes, talvez por esse motivo as pessoas mentem mais do que dizem a verdade. A verdade estava bem diante de mim, mas eu não quis aceitar, eu não podia aceitar! Tem como aceitar que repentinamente o teu suporte deixa de existir? Não! Não dá para aceitar que as mães morrem, elas deviam ser imortais. Por que as pessoas que mais geraram vidas na face da terra precisam perder as suas?

Eu continuava parado na porta de casa olhando os esforços que os meus irmãos faziam para que minha mãe acordasse, mas de nada servia. Nesse domingo eu acabava de chegar da igreja e estava com a bíblia nas mãos, não dava para crer que todas preces que fiz a favor de minha mãe não foram ouvidas por Deus; eu havia orado tanto para que ela se recuperasse da doença que carregava há 10 anos desde a morte do meu pai, e, agora era ela que estava morta. A dor é um monstro que nunca vem só, enquanto eu olhava para minha mãe sem vida no chão, vinham lembranças do meu pai que também já havia falecido, do meu irmão que havia morrido atropelado e da minha irmã que morreu afogada.

Senti um toque nos meus ombros, mas desatendi. Voltei a sentir novamente, dessa vez precisava atender. Virei o meu rosto e percebi que precisava abrir os olhos para enxergar quem era, quando o fiz, quase que o meu coração saiu pela boca, era minha mãe me acordando. Percebi que o meu maior medo havia invadido os meus sonhos, nada era real, minha mãe estava viva e bem junto a mim. Sei que ela não percebeu porquê, mas a abracei demoradamente e disse-lhe o quanto a amo e agradeci à Deus por permitir que eu tivesse mais um dia de vida com a minha mãe bem perto de mim.

Por: Luis da Silva Ubuntu

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