sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Livres Para Sempre - Um conto de Hadil Almeida



 Conto: Livres para sempre?

 Eu vou te levar para conhecer os lugares mais belos de Viena.

— É sério? Sério que o local onde queres me levar para passear é em Viana? É desse jeito que encantas as moças ao teu redor?

— Olha! Não sei o que é mais impressionante, se é o facto de não saberes a diferença entre Viena e Viana ou o facto de eu ainda assim gostar de ti.

Ela transpareceu em seu semblante como ficara intrigada. Cobriu seu rosto com o lençol e enterrou na cama. Eu contive meu sorriso.

— Relaxa! Eu também já confundi Namíbia com Namibe. — falei tentando amenizar o clima.

— Ou confundir Moxico com México. — ela retrucou. Dessa vez eu sorri e respondi animado.

— Boa! Entraste no ritmo. Agora só me falta confundir o X coma tua boca. — beijei-a.

Ela ergueu o rosto, o lençol caiu, ela olhou para mim e hesitou em dizer algo. Puxei-a para o meu lado da cama, bem juntinha a mim. Ela repousou sua cabeça em meu colo e eu reclinei minhas costas na cabeceira da cama. Dava para sentir o corpo dela frio agarrado ao meu enquanto ela tentava encolher os pés da melhor forma para se manter aquecida. Puxei o lençol e a cobri. 

— Obrigada! — ela sussurrou. — Antes de falares que queres levar-me para Viena eu tinha te feito uma pergunta. 

— Qual?

— Onde te vês em dois anos?

— Me vejo deitado na cama e uma mulher linda seminua servindo meu pequeno almoço.

Ela caiu em gargalhadas. 

— Parvo! Não foi essa a questão.

— Mas foi essa a resposta. — retruquei sorrindo.

— Dum jeito mais específico, como te imaginas em questões amorosas em dois anos?

— Sei lá! Me vejo livre como agora

— Livre? Como assim?

— Ué! Livre, assim sem relacionamentos! — mal terminei de responder e ela logo se ajoelhou na cama deixando cair os lençóis na cama. 

— Você disse “livre de relacionamentos” no plural! Indicando que costumas a ter vários. E ainda deixaste implícito no “livre” que estar comigo não significa ter relacionamento algum. 

— Não coloque palavras na minha boca!

— Não preciso porque afinal de conta você é livre né, senhor?

Ela aumentava o tom da voz em cada palavra. Levantei da cama e me descobri dos lençóis. Senti o clima de polo norte no quarto.

— O que nós somos afinal de contas? — perguntou em um tom ameno revelando o descontentamento.

— Nós somos dois humanos prestes a discutir

“Merda! Porque eu tive que responder isso, por quê?” Refleti sem dizer nenhuma palavra.

Ela olhou para mim perplexa. 

— Eu simplesmente te fiz uma pergunta simples e chegamos nesse ponto? 

Eu senti toda tristeza do mundo em suas palavras.

— Eu só quero saber se nós realmente temos futuro. Você não precisar agir assim. Você pode se abrir comigo sem precisar ser o macho alfa.

— Podemos mudar de assunto, por favor?

— Por quê? Porque você não consegue ter uma conversa nua e crua, mas quando se trata de sexo és o primeiro a abrir essa tua boca para dizer safadezas.

— Eu só digo as safadezas que você gosta de ouvir.

Ela atirou a caixa de chocolates que estava na cama contra mim. Atingiu-me nas costas quando virei. Chamou-me por alguns nomes antónimos de santo.

— Eu só queria fazer isso dar certo. E se você não queria por que ficaste comigo todas essas vezes e fingiste me dar amor? — mantive-me em silêncio. — Responde seu covarde!

— Quer saber? Eu até queria fingir que era uma pergunta retórica, mas não vou. A verdade é que eu não fingi gostar de ti, eu gosto de ti, e eu ajo com amor por quem eu gosto. E eu já deixei isso implícito várias vezes, mas você está me obrigar a dizer agora.

— Obrigar a dizer o quê? — ela gritou.

— Me obrigar a dizer que daqui a dois anos eu não me vejo contigo. Não me vejo contigo nem em um ano, nem em um mês, nem mesmo quando você sair desse quarto. Eu gosto de você, mas não para casar e ter filhos, muito menos essas coisas de família e um relacionamento sério.

— Então para ti todos esses encontros nenhum deles foi sério? Nem mesmo quando você conheceu a minha mãe? 

— Eu não te pedi para me apresentares a tua mãe! Foi escolha tua.

— Sério? E você acha que eu quis? Ela nos encontrou na rua aos beijos e parou para nos cumprimentar o que eu diria?

— Sei lá! Dirias que somos amigos ou que não era o que parecia. 

— Sério mesmo?

Ela exalou profundamente ao ouvir.

— Eu simplesmente estou a tentar dizer que não seremos mais do que já somos. Podemos ficar aqui apenas a curtir o momento, o agora, sem pensar no futuro. — terminei falando sentado na cama. 

“Merda! Falei merda de novo! É a verdade, mas é uma merda por eu ter dito.”

Em um silêncio absoluto ela simplesmente levantou da cama, apanhou seu sutiã do chão e colocou. Ficou revirando debaixo dos lençóis na camano chão e debaixo das almofadas. Enfim, ela tirou uma minha calça do guarda-fato e vestiu. 

— Não posso voltar de saia porque não encontro o meu biquíni. 

— Não precisas explicar, eu entendi. 

— Ela colocou a blusa amarela de alças e usou o meu casaco favorito por cima. 

— Eu vou devolver o teu casaco apenas está muito frio lá fora.

— Não precisas explicar, eu entendi. Mas também não precisas ir embora já são onze da noite e hoje as ruas ainda estão muito agitadas por causa da manifestação pela morte da zungueira. 

Sem responder ela simplesmente continuou a organizar as suas coisas. Reparei que ela apenas estava usando um brinco de argola, mas parecia que qualquer coisa que eu dissesse só pioraria.

— Então espere um pouco que vou chamar um táxi! 

— Porra! Eu não preciso da tua ajuda, você já me comeu tal como querias. Não temos um relacionamento, tal como querias. E eu vou embora, então não finja que não é isso que também queres. — resmungou completamente zangada e saiu do quarto. Ouvi de longe a porta de saída batendo

Respirei fundo reconhecendo que tinha acabado de fazer merda. Levantei para tentar espairecer e percebi que aquele tempo todo eu estive sentado no biquíni dela. Reparei no chão e vi a carteira dela. Vesti rapidamente e a segui as pressas. Tão logo sai do quintal vi pessoas se aglomerando a vinte metros a direita da minha porta de casa. Parei a uma certa distância, virei-me para um vizinho agitado e perguntei o que se passava.

— Eh! PapoiteMotorista fugiu e agarraram o pendura. Atropelaram uma moça agora mesmo. Lhe avunaram naquele quadradinho ali. — falou apontando. Meu coração desacelerou, e um medo forte me assombrou temendo em me aproximar e descobrir que era ela. Exalei profundamente e baixei a cabeça temendo o pior, olhando para o chão e temendo enquanto ganhava coragem para me aproximar, vi a argola do brinco que ela usava no chão.

3 comentários:

  1. História emocionante, identifiquei-me muito quando começaram a falar sobre seu relacionamento e quais são os planos para o futuro, depois de sair de um relacionamento eu estava neste estado. Fiquei com alguém e era só a base de sexo e mais nada até que ela perguntou-me o mesmo e simplesmente dei a mesma resposta do personagem e como é óbvio acabou por ficar chateada e foi-se e nunca mais falamos. Depois de brigarmos naquele dia.

    Não gostei muito deste final da história , por mais que deu pra pegar a lição que era suposto a gente pegar. Mas estes dipos de finais são muitos óbvio e chega ser chato, a gente ja sabe o que vai acontecer. Mas como sempre amei a história.👏🏾👏🏾

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