Superação
Embora o restaurante parecia agitado, com a multidão que se movimentava, conversava e ria alto, até demaispara o meu gosto. Era impossível eu não reconhecer o som daquela voz que eu não ouvia há meses, a mesma voz que um dia foi motivo de muita felicidade para mim, hoje voltei a ouvir.
Procurei logo, de onde vinha o som daquela voz, que em algum momento na minha vida foi como: a voz de uma sereia com o corpo semi-submerso nas águas azuis duma ilha qualquer com um nome estranho, cantando a minha música favorita, ao ritmo dum piano e saxofone, enquanto eu me deitava debaixo do sol, na areia quente.
"Caraças!" Exclamei, quando a vi sentada numa das mesas dentro do restaurante onde eu me encontrava. Ela estava deslumbrante. E não porque usava aquele vestido vermelho, que eu havia ofertado, ela era simplesmente deslumbrante mesmo.
Meu amigo disse que foi o reflexo brilhante do vestido dela ou talvez eu alucinei, mas eu juro que houve faíscas quando finalmente, nossos olhares se cruzaram, eu garanto que houve faíscas no ar, foi mágico. Ela acenou e sorriu para mim e virou o olhar noutra direcção, disse algo ao ouvido de uma mulher sentada perto dela. Eu fiz um gesto, para que ela se junta-se a minha mesa, e como resultado recebeu um gesto meio apático da parte dela. Poucos minutos depois, ela levantou e caminhou em minha direcção. Cumprimentou educadamente, meu amigo e eu. Dizendo:
“ Tudo bem contigo?"
Eu disse que sim. E ela tampou o meu copo de champanhe com um guardanapo escrito e voltou a sua mesa.
Peguei no guardanapo, abri e li:
"O que me magoou, não foi apenas o facto de você ter me abandonado naquela cama, após transar comigo naquela que foi nossa última noite. O que mais me magoou foi você nem ter se dado o trabalho de responder a última mensagem que eu te enviei, logo nessa mensagem onde deixei os meus dedos serem porta-voz do meu coração. Você nem sequer respondeu com um "Vai a merda", para um dia você poder ao menos dizer:
"Oi, eu respondi aquela sua mensagem, você viu?".
A dor precisa ser sentida, e tal como dores maiores, eu senti e passou. Hoje eu não escrevo isso por ainda gostar de você, Hadil, aliás eu me importo contigo, mas da mesma maneira que eu me importo com qualquer desconhecido com quem eu me esbarro por aí. Pare de olhar para mim com essa cara de idiota. OBS: Você e o nosso país, têm muito que reflectir."
Eu admito que eu paralisei quando terminei de ler, perdi o apetite, levantei-me logo e fui embora com o meu amigo.
Por [Hadil Almeida]
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