quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Um mar de incertezas - Por: Luis da Silva Ubuntu


Ainda ontem ela sorriu para mim

Saudou educadamente como sempre 

Com a sua voz discreta e um sorriso leve

Acompanhada da humildade que a caracterizava sempre que viesse cá em casa


Perguntou pela mãe antes de dizer o que desejava

Pediu que segurasse o cão 

Era tão insurrecto que sempre deixava a senhora com o coração na mão 

Segurei com firmeza para que ela pudesse passar


Pediu permissão para que pudesse estender a roupa que trazia na banheira 

Os fios estavam vagos então não existia qualquer motivo para rejeição 

Pediu algumas molas para que pudesse prender as mesmas e sorriu quando partiu.


Era madrugada quando ouvimos o som dos tiros 

Foi 1, foram 2 e depois 3

O coração batia acelerado porque parecia muito perto de casa 

O que será desta vez? Quem mataram desta vez? O que roubaram desta vez? 


Depois dos tiros 

O silêncio da madrugada foi interrompido pelo latir dos cães 

E pelos gritos de socorro 

Estava confirmado, mas uma desgraça. 


Pela manhã tudo ficou confirmado

Na sua casa, com a sua família, a senhora foi invadida, roubada e 3 vezes alvejada 

Por pessoas que levaram tudo e não quiseram pelo menos deixar aquela mãe de família com vida para cuidar das suas crias. 


Foi ontem que ela esteve aqui

Perguntou pela mãe e sorriu para mim 

E hoje ela deixou de existir 

Deixando um vazio enorme e o coração despedaçado pela forma que homens maus determinaram o seu fim

E sim, a vida é um mar de incertezas

É num segundo que deixamos de existir.


🖤🖤🖤🖤🖤🖤

30.08.2023

Imagem: Pinterest 

Por: Luis da Silva Ubuntu 

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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

"Um te amo inesperado" - Por: Luís da Silva Ubuntu


Não nos contaram que crescer traz suas desgraças! Guardaram que teríamos dias em que, após o trabalho, o cansaço mental nos cobraria, e o corpo não se recuperaria nem depois de um banho! Aliás, nem nos disseram o quão difícil seria encontrar e manter um trabalho!


Esconderam-nos os dias negros, ou talvez brancos! Esconderam-nos sobre os sonhos que nunca serão realizados e a frustração de adiar tantos planos. Tudo que nos diziam era: "Não tenham pressa de crescer", mas como dizem, quanto mais proibido, melhor parece ser.


Aqui estamos nós! Vivendo dias em que às vezes só dá vontade de fugir de todas as responsabilidades. Alguns até desejam ser vento! Mas não há regresso, às vezes nem um analgésico consegue fazer efeito.


Em meio a tantos dias indesejados, também esqueceram de nos dizer sobre o poder de um "te amo inesperado", a sensação maravilhosa de ouvir ou ler um "te amo" num momento em que tudo parecia devastado.


Espero que todos um dia possam desfrutar desta sensação, de sentir o coração bater acelerado, sentir-se aliviado de todo cansaço, soltar um sorriso verdadeiro em meio a um dia amargo, tudo isso por conta de um "te amo inesperado" da pessoa que verdadeiramente amamos.


Imagem: Pinterest 

07.08.2023

Por: Luis da Silva Ubuntu

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sábado, 27 de maio de 2023

Você continua linda - Por: Luis da Silva Ubuntu

 


“Você continua linda”


Você não precisa odiar o seu corpo

Não precisas esconder as suas marcas para mim 

Só você mesma sabe as lutas que travaste 

Sinta-se orgulhosa por teres vencido todas as batalhas 

As tuas cicatrizes demonstram que és uma mulher vencedora.


Não estragou nada!

Você continua linda 

O teu sorriso ilumina os meus dias negros 

O teu coração continua cheio de amor 

E você continua sendo a minha flor. 


As tuas marcas te fazem existir 

Tocando nelas eu consigo te sentir 

Cada cicatriz com uma textura diferente 

Cada uma te conecta intensamente

É visível que sem elas seria pior, você já não estaria aqui. 


Sinta-se à vontade para mostrar as tuas marcas para mim 

Vista a sua lingerie favorita e desfile 

Eu não me importaria de ficar a vida toda aqui 

Assistindo a esse espetáculo e dizer o quanto te amo 

Você continua linda, mulher! 


Se abrace sempre que possível 

Você é a sua melhor companhia 

Se aceite o tempo todo

Você é perfeita com os seus defeitos 

Acredite em mim, você continua linda.


27.05.2023

Imagem: Pinterest 

Por: Luis da Silva Ubuntu

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quinta-feira, 25 de maio de 2023

África em nós - Por: Luís da Silva Ubuntu

 


África em nós 


Continuamos com os joelhos no chão 

Os punhos cerrados para o ar

Clamando por atenção de quem não se importa

Clamando pela ajuda daqueles que nos matam.


Esconderam a chave da liberdade na nossa mente 

Com a certeza de que nunca iremos encontrar

Dizem que somos burros demais para pensar 

Então o segredo da nossa liberdade continuará perdido. 


Disseminaram o ódio entre nós 

Definiram a benção e a maldição 

O belo e o feio 

Convidam-nos para sua casa e nos maltratam enquanto roubam a nossa casa. 


Continuamos presos a 500 anos atrás 

Cometendo os mesmos erros 

Confiando nos mesmos traidores 

E traindo os que são verdadeiros, o que são reflexos de nós.


Não temos orgulho de ser África

Acreditas na história que nascemos para ser inferiores 

Que a liberdade não é para pessoas de cor 

Mas que raio é uma pessoa de cor?


Não temos o mínimo orgulho de ser Africanos 

Não temos a mínima vontade de ajudar a melhorar alguma coisa 

Queremos todos partir daqui 

E não entendemos que a chave para a solução dos nos problemas está em nós.


Esquecemos princípios como SANKOFA

A importância de olhar para atrás e lembrar onde pertencemos 

Queremos ser rio e esquecer da nascente 

Queremos pertencer a outros lugares esquecendo do nosso verdadeiro LAR.


Imagem: Pinterest 

Por: Luis da Silva Ubuntu 

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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Quem vê Bunda não vê coração nem cara Part. 2 - Um conto de Luis da Silva Ubuntu

 


Quem vê bunda não vê coração - Part.2


Diante daquela farda verde, destacavam-se as patentes mais vermelhas que os olhos do guarda-costas que estava ao lado. Sentando em meio ao Shopping com a sua esposa, o general não ficou indiferente quando viu uma mulher com um corpo exuberante passando por ele, ela desfilava, vestida de um vestido vermelho justo e o cabelo solto. O general não conseguiu disfarçar o movimento dos seus olhos que acompanhavam o abanar da Bunda daquela mulher, uma perfeita sincronização do movimento um, dois, um, dois… A Sua esposa bateu na mesa para chamar a sua atenção, visivelmente aborrecida.


  • Então, amor! Já decidiu o que vai ser? - Perguntou o General tentando disfarçar.
  • Vai ser a Bunda daquela mulher! - Respondeu irritada! 
  • Por que precisas te implicar com tudo? Eu nem vi a senhora a passar! - mentiu. 
  • Nem viste o quê? Não me faça de parva, ouviu! 
  • Estás a gritar com quem?  Estás a gozar? - retrucou de forma áspera. As pessoas noutras mesas olharam curiosos. 

Visivelmente intimidada, a senhora levantou e disse:

  • Vou ao quarto de banho!

Tão logo sua esposa retirou-se, o General pediu ao seu Guarda-costa e motorista que fosse ter com a jovem da bunda grande e que pedisse o contacto dela.


  • Sim, Chefe! - Ele respondeu e foi disparado em direção a jovem.
  • Senhora! Desculpa. Meu general pediu o seu número.
  • Diz ao teu general para vir ter comigo!
  • Quê? Você está brincar?
  • Diz ao teu general que não gosto de homens que mandam recados!
  • Não posso sair daqui sem o número, senhora. Senão eu é quem vou pagar. Missão dada deve ser missão cumprida. 
  • Se eu entregar o número a ti vai significar que é contigo que estou a falar!
  • Podemos fingir que é com ele! Mas quem não gostaria de falar com uma mulher como você?

Ela sorriu. 

  • Uma mulher como eu!? Como eu sou?
  • Uma mulher linda e com um corpo que homens fariam loucura para tocar.
  • Qual loucura você está disposto a fazer?
  • Neste momento, apenas levar o número para o meu general. E se quiseres, depois eu volto para pagar-te o que quiseres!
  • O que eu quiser? Cuidado com as palavras! - falou enquanto entregava o número no papel.
  • Volto já! 


Bem antes que a esposa do general tivesse voltado, ele entregou o número ao general e disse:

  • Essa é daquelas que se fazem de difícil!
  • É normal ela comportar-se assim contigo, você não tem dinheiro! - ambos sorriram.

A esposa do General chegou e anunciou:

  • Já podemos ir assistir o filme. Mas aqui só tem dois ingressos?
  • Sendo o seu aniversário, eu reservei a sala apenas para nós os dois! - o general respondeu sorrindo. - Você aguarda por nós aqui. 

Ele levantou, beijou a sua mulher e a segurou na mão para que fossem a sala de cinema.


  • Voltei! - anunciou assim que sentou na mesa da mulher.
  • Deve ser chato trabalhar para aquele velho!
  • Além do salário maravilhoso como guarda-costas e motorista; além dos carros de luxo que posso conduzir todos os dias e os presentes que recebo, é sim um trabalho chato! - sorriu.
  • Eu quero aquele colar! - a mulher falou apontado para a joalharia. 
  • O quê? 
  • Você disse que voltarias para pagar o que eu quiser! Eu quero aquele colar!
  • Aquele colar custa 300 mil Kz! O que eu ganho em troca? 
  • O que você quer ganhar em troca? - ela perguntou sorrindo. - Vale lembrar que eu não prometi nada para ti!
  • Quero estar contigo antes do meu General!
  • Comida de adultos não pode ser dada para as crianças. - ela sorriu.
  • Assim como um colar de 300 mil não pode ser dado de graça! - retrucou. - Acredito que o filme faz no máximo uma hora, então temos pouco tempo.
  • Pague o colar e tenha a honra de tocar em uma Deusa. 

Sem hesitar ele levantou da cadeira e deu a mão para que ela fizesse o mesmo. Juntos entraram a Joalharia. Ela tirou o colar desejado e ele pagou.

  • Por favor, pode ficar contigo, jovem. Voltaremos dentro de alguns minutos para receber. - ele anunciou. 
  • Como assim? - a jovem com o corpo deslumbrante perguntou curiosa.
  • Antes preciso levar-te a um lugar!


Saíram da loja e foram em direção ao estacionamento. 

  • O que fazemos aqui?
  • Temos poucos minutos para aproveitar. - ele respondeu. 

Em seguida, ouvi-se o desbloquear das portas do último Lexus.

  • Lexus me dão tesão!
  • Gostosa como és e ainda entendes de carros? Agora acredito em mulheres perfeitas!

Ela empurrou o jovem para a porta do carro. Beijou e colocou as mãos nas suas zonas baixas.

  • Parece que você já está preparado!
  • Um soldado sempre está preparado! - Ele falou colocando as mãos dentro do seu vestido. - Entra para o carro. 
  • Levanta os vidros e deixe o carro a trabalhar.
  • Por que deixar o carro a trabalhar?
  • Para evitar que outras pessoas escutem os nossos gritos! - ela sorriu e ele acatou a recomendação.

Os dois estavam no banco de trás do carro do general. Ela tirou o vestido prontamente. Ele suspirou ao ver que ela sem roupa era melhor do que ele imaginava. Enquanto ele baixava as calças, ela disse:

  • Só vamos continuar se o meu colar estiver aqui!
  • O quê? O colar não vai fugir da loja!
  • Não confio em ti! 
  • Caralho! Olha como eu estou!
  • Se quiser aliviar sabe o que fazer! - ela falou dando um beijo na sua boca.                                 Ele voltou a vestir as calças e saiu disparado para levantar o colar na loja. Era visível a sua pressa ao andar. Tão logo chegou na loja, apresentou a factura e pediu pelo colar. Agradeceu e saiu disparado assim que recebeu. 


Quando voltou ao parque de estacionamento, para a sua grande surpresa o carro já não encontrava-se lá. Não havia sinal da mulher com quem ele estava em lugar nenhum. Caiu de joelhos e colocou as mãos na cabeça, pensando em como explicaria ao seu general o que havia acontecido com o seu carro. 


Por: Luis da Silva Ubuntu

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domingo, 23 de abril de 2023

Patrões e empregados não sentam na mesma mesa - Um conto de Luis da Silva Ubuntu

 


Patrões e empregados não sentam na mesma mesa


Fazia quase um ano que dona Zumba trabalhava naquela casa, ficava encantada com todo luxo que tinha e desejava muito ter uma vida igual aquela. Sempre que os seus patrões saíssem de casa, ele ia para o quarto e colocava as melhores roupas da sua patroa, ficava parada frente ao espelho imaginando como seria perfeito se tudo aquilo fosse dela.; deitava na cama e imaginava como seria perfeito ter uma cama como aquela; sentava na sala e desfrutava da Tela gigante de casa. 


Faziam poucos meses desde a morte da sua patroa, diziam que a senhora não havia aguentado toda pressão do mundo por não conseguir engravidar e para piorar ter descoberto que o seu marido havia engravidado outra mulher. Encontraram a pobre mulher sem vida no quarto. O que verdadeiramente aconteceu, claramente o patrão não falou para ninguém. 


Sra. Zumba ficou com ódio do seu patrão por ter traído a mulher, na cabeça dela ele era o responsável pela morte prematura da sua patroa, alguém que sempre a tratou com muito amor. Lembrou das várias vezes que convidou sua patroa para acompanhá-la em uma casa onde fazem tratamento, porém ela sempre recusou, dizia que jamais entraria nestas casas para engravidar. - Granda burra, agora morreu e deixou tudo. - Pensou dona Zumba lembrado disso. O patrão anunciou que viria com a nova mulher para casa, exigiu que todos fizessem o seu trabalho com excelência. Pediu a Sra. Zumba que fizesse um prato de excelência. Dona Zumba movida pelo ódio, pensou que esse seria o momento perfeito para vingar a morte da sua patroa, decidiu que iria colocar um veneno na comida, assim, nem o seu patrão, nem a sua mulher e muito menos o bebê que a mulher esperava resistiriam. 


Colocou-se à mesa e cada um dos funcionários fez questão de ir ocupar-se com outras tarefas, assim como sempre aconteceu. Porém, para a surpresa de todos, quando o patrão chegou acompanhado da nova mulher pediu a todos que se fizessem presentes na enorme sala. Alguns ficaram com medo e se perguntavam entre si se haviam feito algo errado; dona Zumba tremia com receio que tivesse sido descoberto o que ela fez. Para fim das insinuações o patrão finalmente anunciou:


  • Meus senhores, quero que todos vocês conheçam a vossa nova patroa! Para mostrarmos a ela que somos uma família, hoje vamos todos comer juntos à mesa.
  • Eh! - Gritou dona Zumba para a admiração de todos. - Desculpa, Patrão. Mas nós nunca comemos na mesa com os patrão.
  • E qual é o problema, dona Zumba? Há uma primeira vez para tudo. Não é, meus senhores? - retrucou o patrão. Todos menearam a cabeça em sinal de sim.
  • Mas eu fiz apenas a comida para os patrão, não chega para todos nós. - Protestou dona Zumba suando.
  • Então sem problemas! - Falou a nova mulher do patrão. - Qual é o nome mesmo da senhora?
  • Zumba! Zumba, patroa. 
  • Eu queria muito comer com todos vocês, mas já que a comida é pouca não faz mal. Com certeza teremos outras oportunidades. Não é, amor? 
  • Claramente, amor! Então fica combinado. Na próxima vamos todos comer juntos. Agora podem todos voltar ao trabalho. Obrigado.                                              Enquanto todos se retiravam, a nova patroa disse:
  • Zumba! Você não vai, você fica para comer connosco. Acredito que essa comida vai servir. 
  • Eh! - gritou novamente dona Zumba.
  • Qual é o problema? - perguntou o patrão admirado pela reação da mulher.
  • Eu não sei comer com faça, patrão. Não entendo esses copos todos. - falou tentando recusar o convite.
  • Não faz mal, come como você sabe! - retrucou a nova patroa sorrindo.


Sentaram-se à mesa, dona Zumba suava demasiado e as suas mãos tremiam a cada colher que colocava no prato. Não passou despercebido para os seus patrões que entreolharam-se. 


  • Tudo bem, dona Zumba?

Dona Zumba não conseguiu responder. Continuava a tremer e suar. 

  • Não tenha medo! Nós não mordemos. - falou a nova patroa tentando acalmá-la. 

Dona Zumba surtou!

  • Não me fala nada você! - gritou olhando fixamente para mulher. - Você não é minha patroa e nem me mandas.
  • O que é isso Zumba! - O patrão levantou e perguntou revoltado. 
  • Vocês dois mataram a minha patroa. Vocês são assassinos! - Gritou dona zumba e com toda força puxou a toalha de mesa, toda comida envenenada caiu ao chão. Ela levantou e saiu a correr para nunca mais voltar. 


O que os patrões nunca ficaram a saber, é que o convite para os empregados sentarem à mesa com eles havia salvado as suas vidas. 


Imagem: Pinterest 

Por: Luis da Silva Ubuntu 

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sábado, 15 de abril de 2023

Eu continuo caindo - Um conto de Hadil Almeida

 


Estava difícil manter-me concentrado na sala de aula. Eu não conseguia focar apenas no que devia, o som da voz do professor e dos colegas em volta pareciam ruídos. Tentei inspirar e expirar para que me acalmasse, mas não resultava. Levantei! E enquanto marcava passos em direcção a saída o professor chamou por mim, ignorei totalmente, foi o meu primeiro impulso. Andando no corredor da universidade em direcção ao WC, senti meus batimentos cardíacos acelerando, entrei logo na primeira sala de aula vazia para poder recuperar o fôlego e normalizar o batimento cardíaco. Tão logo sentei, tentei retirar o telefone do bolso da calça para ligar para o meu irmão, mas o telefone caiu. Minhas mãos estavam trémulas e o batimento cardíaco não diminuía, apenas fiquei lá sentado por alguns minutos tentando me recompor. Quando finalmente pude apanhar o telefone, disquei o número da minha mãe. Ela não atendia. Apertei o telefone com tanta força, tentando liberar a raiva que eu sentia de mim mesmo. Eu continuava a dizer para mim mesmo que estava tudo bem, mas eu sabia que era mentira, e das maiores mentiras que um ser humano pode contar, é mentir para si mesmo e não aos outros. Trêmulo, eu mal consegui pegar o livro " Crise na Casa dos 20", aquela merda era uma cura tanto quanto uma revelação do que eu estava a sentir. Tive um grande susto quando o telefone vibrou na minha mão. Era a minha mãe retornando a chamada, hesitei em atender, mas ao mesmo tempo algo dentro de mim sussurrava que a única pessoa que entenderia o porquê de eu não querer fazer parte desse mundo seria a mesma pessoa que com dores  me colocou nele. Atendi e permaneci em silêncio, ganhando coragem de dizer o que estava sentindo sem desabar. 

- Meu filho! - disse ela transbordando uma alegria que se percebia mesmo do outro lado da linha 

- Mãe! Mãe! Por que só eu que não dou certo? Por que só eu me sinto assim? Perdido, atrás e sem conquistas para ao menos poder me gabar?

- Meu filho! O que houve?  Que pensamentos são esses? 

Dei por mim deixando escorrer uma lágrima pelo rosto abaixo. 

- Meu filho! Onde estás? Diga onde estás que eu vou ao seu encontro.

- Não respondeste as minhas perguntas, mãe! Ninguém consegue responder por que eu não tenho progredido na vida.. - retruquei soluçando e ainda com lágrimas nós  olhos. 

- Se acalme! Mas é claro que tens progredido, pode não ser do jeito que você deseja, mas é um progresso. Por que estás a te cobrar tanto?

- Que progresso? Que progresso? - gritei desesperadamente.

- Calma, filho, por favor! - ela levantou o tom da voz, mas sem parecer ameaçador.- O que te faz pensar que não estás a progredir?

- Mãe! Isso é óbvio. Olha para o que os jovens da minha idade já conquistaram. Olha como eles orgulham suas famílias. Olha como eles ajudam suas famílias. Como eu tenho te ajudado? 

- Você foi o maior presente que Deus me deu. E não...

- Não me fale de Deus, mãe! - interrompi com raiva. - Deus me abandonou.

- Nunca mais repita isso. Deus nunca sai do nosso lado. 

- Mas ele saiu do meu! E se é que ainda está realmente do meu lado por que ele não me responde? - falei baixinho chorando.

- Filho! Para de se punir! Me diz onde estás. - a voz dela ecoou na sala, a chamada estava no altifalante e sua voz estava bem audível. 

- Me diz algo, mãe! Tirando o facto de eu ser o maior presente que Deus te deu, eu te deixo orgulhoso? 

- Você é meu único filho! Nada no mundo me deixa mais orgulhosa, e nada no mundo me deixa mais triste do que isso, saber que é assim que você se sente.

- Me desculpa! Me desculpa por não ser o filho que você gostaria. Me desculpa por não ainda conseguir ser como os outros que têm conquistado grandes coisas. Mas eu tenho tentado o máximo que possível e fracassado a toda vez que tento.

- Nunca peça desculpas por dares o melhor de si! Eu não já não te ensinei isso? - ela replicou me repreendendo quase que gritando. - Ainda que para os outros não valha nada ou não tenha sido o suficiente, mas se for o melhor si não peça desculpas, faça de novo e ultrapasse os teus limites. Se ainda assim não servir repita o processo de maneiras diferentes até conseguires.  

Após o uma breve pausa ela prosseguiu dizendo.

- Eu não devo nada a ninguém! Não fiz mal algum que eu tenha que pagar! Ninguém carrega um ódio por mim que seja justo, por algum mal que causei. Então não há mal algum ou força negativa que descende de mim para ti. Por tudo de bom que eu tenho feito, você como meu único filho também herdará essa benção. A vida é dura! Os fracos vivem reclamando e os fortes vivem as conquistas das quais os fracos reclamam. E eu e o teu pai não criamos um fraco,  não permito que você haja assim.

A chamada caiu. De bruços, eu já não conseguia dizer palavra alguma, apenas fiquei em lágrimas sob uma angústia apertando meu coração. Eu passei as mãos no rosto e inclinei tentando me conter.

Mal levantei a cabeça e percebi que não estava sozinho na sala de aula. E com um milhão de pessoas para estar ali, o mundo trouxe logo aquela maldita mulher, a mulher por quem eu estava apaixonado. Pareceu que ela estava a ouvir tudo, minhas lágrimas caíram ainda mais, não entendi se era a maldita vergonha ou mesmo o sentimento que já estava a flor da pele. Ela veio se aproximando a mim e baixei a cabeça sem conseguir sequer olhar para o rosto dela. Era uma certeza que após aquela cena eu com certeza já não tinha mais nenhuma chance com ela. Ela se aproximou sem dizer uma só palavra e sentou bem ao meu lado. Minha mãe tornou a ligar, ela atendeu por mim. Minha mãe falou coisas que eu não queria ouvir e em suas  últimas palavras disse que queria me ver vivo e jantando em casa dela no final do dia. A mulher ao meu  amor lado quebrou o seu silêncio se dirigindo para mim: "Que o senhor te dê serenidade para aceitar as coisas que não podes mudar. Coragem para mudares aquelas que podes. E sabedoria para entenderes a diferença." Abraçou-me e ficamos ali na companhia um do outro sem dizer nada. Acredita! Aquele foi o silêncio que mais falou na minha vida.

Todos juntos na luta contra a depressão!

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sexta-feira, 7 de abril de 2023

Kiaku Kiaku, Kiangani Kiangani - Um conto de Luis da Silva Ubuntu

 


Kiaku Kiaku, Kiangani Kiangani

Havia uma velha que vivia sozinha fazia muitos anos. Ela tinha uma casa de apenas um quarto. A velha era muito pobre, passava por muitas dificuldades, muitas vezes não tinha nem o que comer. Não havia energia em sua casa, nem um televisor, geleira ou qualquer outro aparelho elétrico. Tudo que ela tinha era um Luando onde dormia, um baú cheio de roupas velhas, o seu candeeiro de petróleo que havia encontrado na lixeira e um pano que usava todos os dias. 

Todos no bairro sentiam medo daquela velha. Diziam que era uma bruxa, que havia comido toda sua família por isso vivia na mais completa solidão. Ninguém importava-se com ela, jamais algum familiar foi procurá-la, se é que tinha algum! Ainda havia vizinhos que juravam que ela ressuscitou do mortos. Eles diziam que anos atrás, a velha tivera entrado em sua casa e só voltaram a vê-la um ano depois. Como é possível alguém ficar trancada por um ano? – Perguntavam-se eles. E a resposta que eles tinham para essa pergunta é que ela era mesmo uma bruxa.

Os mais velhos do bairro diziam que ela tinha 100 anos ou mais. Era visível o peso da idade nas suas pernas que viviam tremulas, ela usava um cajado para conseguir caminhar firmemente com o seu corpo cada vez mais inclinado. Seu cabelo, sobrancelha e suas pestanas eram todas brancas.  Ela tinha uma pequena lavra no seu quintal, onde tinha suas hortaliças plantadas, como: Kizaca, couve, berinjelas, rama-de-batata, e jimboa. Ela usava as suas hortaliças para sua alimentação e para vender. Porém, muito pouco ganhava nas suas vendas, a fama de bruxa fazia quase sempre a pobre velha voltar em casa com o seu negócio. Havia tempos difíceis, tempo que tudo na sua pequena lavra secava, tempo que a faziam passar dias sem comer qualquer coisa. Muitas das vezes batia à porta de pessoas para pedir ajuda, mas quase nunca conseguia. Várias vezes ela tinha de recorrer aos pães que eram deitados da padaria para ter qualquer coisa em sua casa.

Todos dias a velha pegava no seu negócio e partia para a praça vender, estendia um saco no chão e colocava todas suas hortaliças. Ela ficava afastada de todas outras vendedoras, não por opção, mas foi isso que todas outras senhoras decidiram, ninguém podia ficar próximo dela. Todas as tardes quando voltava para casa, cansada por ficar tanto tempo sentada e sem vender nada, ela tinha de ouvir as crianças do bairro zombando dela, ofendiam-na sempre que a vissem passar, algumas vezes jogavam pedras e corriam. Ela nunca retrucava, simplesmente seguia o seu caminho de volta a casa. 

Suas noites eram tristes, ela fazia uma pequena fogueira e sentava-se no seu banco, era assim que ela aquecia-se do frio. Muitas das vezes falava sozinha, o que ela dizia ninguém conseguia entender. Outras vezes era mesmo vista chorando, ninguém sabia porquê. Seu quintal era aberto, as pessoas sempre que passavam olhavam para ela e a ofendiam, principalmente quando acendia a sua fogueira, diziam que estava a fazer um ritual satânico. 

Fazia uns dias que a pobre velha mal comia alguma coisa nutritiva, quase duas semanas. Sua lavra estava totalmente seca. Tudo que ela tinha em sua casa era a água da chuva que havia reservado faz um tempo.  Ela sentia-se muito fraca, precisava comer qualquer coisa, nunca tinha ficado tanto tempo sem comer.  O peso da velhice e a fome estavam a ser muito cruéis com ela. Ela fez esforço para levantar-se, foi até a casa mais próxima da sua. Era a casa do Sr. Diabanza, um senhor que sempre a expulsava, mas ela acreditou que seria diferente dessa vez, acreditou que ele teria pena dela. Bateu na porta. Abriu justamente o Sr. Diabanza.

– Ajuda! Dá só comida. – falou a velha estendendo a mão para o senhor Diabanza assim abriu a porta. Sr. Diabanza a reparou de cima para baixo, percebeu que ela estava pior que das outras vezes. 

– Desapareça daqui, sua bruxa. Vá morrer longe! Nem se estiver a chover comida no mundo eu daria para você, velha bruxa! – falou irritado enquanto fechava a sua porta.  

A velha decidiu ir a lixeira, também não havia nada para comer. Enquanto voltava para casa, faminta, marcando passos mais lentos que noutrora marcava, ela viu uma carteira no chão. Ficou indecisa se apanhava ou não. Tinha receio que fosse uma armadilha dos moradores do bairro, mas acabou apanhando a carteira. Era uma carteira cheia de dinheiro, ela percebeu assim que abriu. Da mesma forma que percebeu pela foto que havia na carteira que ela pertencia ao seu vizinho, o vizinho que sempre a recusou ajuda, o vizinho que sempre dizia aos outros vizinhos para não a ajudarem. A carteira era do Sr. Diabanza, um senhor que era totalmente maldoso com ela, que muitas vezes olhava para o seu filho jogando pedra a velha e incentivava que atirasse uma pedra maior.  O mesmo vizinho que horas atrás recusou-se de lhe dar de comer.

Enquanto a pobre velha pensava no que fazer com a carteira, Sr. Diabanza estava desesperado em sua casa! Procurando pela carteira por tudo quanto fosse sítio, estava totalmente desorientando pensado no seu salário de 2 meses atrasado que recebeu, dinheiro que podia servir para garantir o pagamento da casa onde vivia, comprar comida, pagar a escola dos filhos e pagar todas dívidas que adquiriu nesses 2 meses sem salário. Onde será que está a maldita carteira!? – perguntava-se chorando de raiva e tristeza. 

A velha pensou que podia comprar a comida que quisesse, já que nunca ninguém recusava o seu dinheiro quando tivesse! Tomou a sua decisão e foi caminhando lentamente para casa. Como noutros dias as crianças aguardavam por ela no caminho para zombarem dela e a ofenderem. E como sempre, o filho do Sr. Diabanza estava lá, ofendendo e jogando sempre as maiores pedras. Nenhum adulto dava a mínima para isso, todos simplesmente olhavam. Alguns diziam se a velha não reclama eles não podem fazer nada, talvez até ela goste da dor. Ou talvez nem sentisse dor! – defendiam os outros.

Para o espanto de todos, a velha estava a dirigir-se para a casa do Sr. Diabanza, todos ficaram admirados! A velha nunca reclamava de nada, como é que hoje ela está a ir na casa de um dos rapazes? – perguntavam-se entre eles. Enquanto ela caminhava até a porta do Sr. Diabanza, muitos vizinhos, adultos como crianças a seguiam para saber o que ela estava a ir fazer. Bateu à porta assim que chegou, com todos vizinhos a sua volta a ofendendo. A porta abriu, e era novamente o Sr. Diabanza que abriu.

- O que vocês querem aqui? – falou olhando para os vizinhos, ignorando totalmente a presença da velha.

- Eu é que falar com você. – falou a velha, usando mais uma vez o português que pouco dominava. Todos riram-se por ela não expressar-se devidamente. Enquanto desamarrava o pano todos afastaram-se com medo que fosse alguma bruxaria.

Sr. Diabanza ficou incrédulo assim que a velha estendeu a mão, era a sua carteira na mão dela. Todos a volta também ficaram espantados, todos queriam ter apanhado a carteira, mas não seria para devolver. E justamente a pessoa mais pobre de todas encontrou e estava a devolver. Com lágrimas visíveis nos olhos perguntou o Sr. Diabanza:

- Por que estás a devolver? – ele tinha noção das suas acções.

- Kiaku Kiaku, Kiangani Kiangani. – respondeu a velha com um sorriso no rosto. – Usando a língua Kikongo. - Teu é teu, do outro é do outro. – traduziu a velha para todos que estavam aí.

Sr. Diabanza abraçou a velha chorando, todo mundo a volta sentiu-se impactado pela grande lição que a velha acabara de dar a todos. Desde esse dia em diante eles perceberam que a velha nunca foi maldosa com eles, eles é que sempre foram verdadeiros demónios para com ela.


Foto: Dona Maria (Google)

[Por: Luis da Silva Ubuntu livro “Contador de contos”] 

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sábado, 1 de abril de 2023

O país e o meu Ex precisam reflectir - Um conto de Hadil Almeida




Superação

 

Embora o restaurante parecia agitado, com a multidão que se movimentava, conversava e ria alto, até demaispara o meu gosto. Era impossível eu não reconhecer o som daquela voz que eu não ouvia  meses, a mesma voz que um dia foi motivo de muita felicidade para mim, hoje voltei a ouvir. 

Procurei logo, de onde vinha o som daquela voz, que em algum momento na minha vida foi como: a voz de uma sereia com o corpo semi-submerso nas águas azuis duma ilha qualquer com um nome estranho, cantando a minha música favorita, ao ritmo dum piano e saxofone, enquanto eu me deitava debaixo do sol, na areia quente. 

"Caraças!" Exclamei, quando a vi sentada numa das mesas dentro do restaurante onde eu me encontrava. Ela estava deslumbrante. E não porque usava aquele vestido vermelho, que eu havia ofertado, ela era simplesmente deslumbrante mesmo

Meu amigo disse que foi o reflexo brilhante do vestido dela ou talvez eu alucinei, mas eu juro que houve faíscas quando finalmente, nossos olhares se cruzaram, eu garanto que houve faíscas no ar, foi mágico. Ela acenou e sorriu para mim e virou o olhar noutra direcção, disse algo ao ouvido de uma mulher sentada perto dela. Eu fiz um gesto, para que ela se junta-se a minha mesa, e como resultado recebeu um gesto meio apático da parte dela. Poucos minutos depois, ela levantou e caminhou em minha direcção. Cumprimentou educadamente, meu amigo e eu. Dizendo

“ Tudo bem contigo?" 

Eu disse que sim. E ela tampou o meu copo de champanhe com um guardanapo escrito  e voltou a sua mesa.

Peguei no guardanapo, abri e li:

 "O que me magoou, não foi apenas o facto de você ter me abandonado naquela cama, após transar comigo naquela que foi nossa última noite. O que mais me magoou foi você nem ter se dado o trabalho de responder a última mensagem que eu te enviei, logo nessa mensagem onde deixei os meus dedos serem porta-voz do meu coração. Você nem sequer respondeu com um "Vai a merda", para um dia você poder ao menos dizer:  

"Oi, eu respondi aquela sua mensagem, você viu?".

A dor precisa ser sentida, e tal como dores maiores, eu senti e passou. Hoje eu não escrevo isso por ainda gostar de você, Hadil, aliás eu me importo contigo, mas da mesma maneira que eu me importo com qualquer desconhecido com quem eu me esbarro por aí. Pare de olhar para mim com essa cara de idiota. OBS: Você e o nosso país, têm muito que reflectir."

Eu admito que eu paralisei quando terminei de ler, perdi o apetite, levantei-me logo e fui embora com o meu amigo.

Por [Hadil Almeida]

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